Ainda hoje se trata de uma bela e emblemática construção, no Ponto de Cem Reis, o edifício que serviu de abrigo à loja de As Nações Unidas, pertencente à empresa Tecidos Cardoso. Ele teve sua construção iniciada em 1957 e concluída em 1959. Houve uma época, que acompanhei com os olhos e os sentimentos já atentos, em que as vitrines das Nações Unidas de alguma forma substituíam um canal de televisão que a capital paraibana não possuía. Os aparelhos de TV em João Pessoa mostravam a programação de Recife que, na década de 1960, era produzida pela TV Rádio Clube e pela TV Jornal do Comércio, e chegavam na capital paraibana via repetidoras. E com muito chuvisco. Afora isso, e os filmes do Plaza, do Rex e, depois, do Municipal, para falar nas principais casas de exibição cinematográfica em João Pessoa, acabava sendo interessante o espetáculo visual das vitrines de As Nações Unidas, sempre ornamentadas, mais destacadamente em finais de semana, com as últimas da moda.
Na ânsia da cidade por construções modernas, uma delas, do outro lado da Praça Vidal de Negreiros sediando o Ipase, o novo prédio foi saudado pela imprensa como substituto de um “antigo pardieiro”, conforme nota veiculada em jornal da época. Essa informação encontrei em uma dissertação de Mestrado em Arquitetura, na Universidade de São Carlos, datada de 2008, defendida por Fulvio Teixeira de Barros Pereira (hoje, já com doutorado), professor da Universidade Federal de Campina Grande, e intitulada Difusão da Arquitetura Moderna na Cidade de João Pessoa (1956-1974). O trabalho acadêmico detalha a obra: “Seus cinco pavimentos o enquadravam na nova altura estabelecida para o local e o permitiam usufruir de isenção fiscal. Afora as exigências locais, eram os princípios modernos que guiavam o projeto.
A regular retícula de concreto que definia sua volumetria era uma consequência direta do seu interior e da própria solução estrutural. A repetição e a simplicidade transpareceram na uniformidade de tratamento das aberturas e no traçado racional da marquise de concreto, que protegia a loja, localizada no térreo, contra a insolação e a chuva, e estabelecia uma diferenciação formal às diferentes funções (comércio, no andar inferior, e escritórios nos demais pavimentos) abrigadas no prédio. Logo, não era a verticalização que se expunha nessa obra, mas também a própria modernização da arquitetura local, embora fosse aquele o aspecto mais assinalado pela imprensa”. Portanto, o prédio das Nações Unidas tem estilo a ser preservado, em função de história construída em uma inserção de mais de 60 anos no cenário do Ponto de Cem Reis. É coisa nossa e, dessa forma, dependente dos cuidados da parte do poder público.
(Na primeira foto, década de 1950, o Ponto de Cem Reis com o Ipase e sem o prédio de As Nações Unidas; na outra, o novo edifício já pontificando na praça).
SÉRGIO BOTELHO é jornalista e colaborador do PARAHYBA NOTÍCIAS e RÁDIO WEB QUINTAL