Rua Direita

Aberta logo nos primeiros movimentos de edificação da cidade, a rua teve três denominações ao longo dos primeiros tempos (Direita, da Baixa e São Gonçalo ou do Colégio, na sequência, tudo rua Direita), mas acabou batizada em 1881 como Duque de Caxias (personalidade militar importante na consolidação do espaço geográfico brasileiro, falecido em 1880, e desde 1962 intitulado Patrono do Exército Brasileiro). Por sua relevância, o percurso se constitui em símbolo da evolução urbana da atual João Pessoa. Era Direita, no trecho entre o largo do conjunto franciscano (atualmente, Centro Cultural São Francisco) até o Beco da Misericórdia, atual Peregrino de Carvalho, na altura da igreja da Santa Casa de Misericórdia.

Da Baixa, na parte compreendida entre o Beco da Misericórdia até a hoje Guedes Pereira, mas que tinha o nome de Beco do Rosário, em virtude da Igreja do Rosário dos Pretos, já derrubada, que ficava à altura do atual Ponto de Cem Reis. Enfim, São Gonçalo ou do Colégio, que ia do Beco do Rosário ao Colégio, Igreja e Convento dos Jesuítas, conjunto arquitetônico agora formado pelo Palácio do Governo e pela Faculdade de Direito, na atual Praça João Pessoa. (Na época havia ali a Igreja de São Gonçalo, depois da Conceição dos Militares, já derrubada para criar o espaço ajardinado do prédio que até outro dia servia como Palácio do Governo).

A rua Direita, em João Pessoa nasceu como uma via direta, mesmo, não enviesada. Mas os portugueses também costumavam denominar de Direita as ruas que passavam a orientar a construção das urbes. Nos seus extremos, como já anotamos, duas construções religiosas da maior importância, na época, para a cidade, os conjuntos franciscano e jesuítico. Ao longo dela, o Erário, a Cadeia Pública, a Câmara, as Igrejas da Misericórdia e do Rosário dos Pretos. Além disso, distribuíam-se pela rua Direita largos importantes, como aquele logo no seu início, da obra franciscana, o do Erário (atual praça Rio Branco), o da Igreja da Misericórdia, o da Igreja do Rosário dos Pretos (atual Ponto de Cem Reis), e no seu epílogo, o do Conjunto dos Jesuítas, hoje Praça João Pessoa.

No antigo Largo do Erário, estão de pé os prédios do Erário, da Prefeitura e da Cadeia Pública. Os maravilhosos conjuntos franciscano e jesuítico também resistem, assim como a Igreja da Misericórdia. Ademais, ao longo da história da Duque de Caxias, que já serviu de passarela a memoráveis carnavais de rua, além de desfiles cívicos e esportivos, outros estabelecimentos existiram de importância para a trajetória cultural e social da capital paraibana. Falo do Conservatório de Música, dos clubes Astrea, do Botafogo e dos Diários (depois, do Cabo Branco), para citar alguns. Sem esquecer o glorioso Cine Rex, que a partir do início do Século XX, com o nome de Cine Rio Branco, embalou fantasias e estimulou a sensibilidade do povo paraibano. E do mais antigo ainda, Cine Pathé. Dessa forma, a rua exerceu sempre papel significativo na formação da cultura e do patrimônio da comunidade pessoense. Enfim, impossível esquecer o prédio onde por tanto tempo funcionou o centenário jornal A União, na parte final da Rua Direita, esquina com a Praça João Pessoa, que foi derrubado, no início da década de 1970, durante a ditadura, após decisão das mais equivocadas do ponto de vista da história urbana da cidade.

 

Sérgio Botelho é jornalista e memorialista, escreve às terças, quintas e sábados para o PORTAL PARAHYBA NOTÍCIAS

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