– “A Mata do Buraquinho (…) corresponde ao maior remanescente de Mata Atlântica em área urbana do país, completamente cercado pela densa matriz urbana da cidade de João Pessoa, capital e maior cidade do Estado da Paraíba. A Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, possui uma área superior, entretanto não se caracteriza como um remanescente por não ser uma área natural, uma vez que já foi completamente devastada e posteriormente recuperada”. A conclusão é da equipe de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba, Nádson Ricardo Leite de Souza, Vanessa Vasconcelos da Silva, Edson Henrique Almeida de Andrade e Valeria Raquel de Lima, publicada sob o título “Análise dos Efeitos da Borda na Mata do Buraquinho, João Pessoa, Paraíba”, setembro de 2019, na Revista da Casa da Geografia de Sobral. O objetivo do estudo foi o de avaliar os impactos ambientais das bordas “no contato com a densa urbanização do entorno”, além das trilhas abertas na mata. O Refúgio de Vida Silvestre da Mata do Buraquinho, que hoje constitui o Jardim Botânico Benjamin Maranhão, possui uma área equivalente a 517,80 hectares (ha), limitada a leste e sul pela BR-230, ao norte pela Avenida Dom Pedro II, e a oeste pelos bairros do Cristo Redentor Varjão e Jaguaribe, todos inseridos no município de João Pessoa/PB. A história da Mata do Buraquinho, na condição de área remanescente da Mata Atlântica, acompanha toda a trajetória da capital paraibana. Ao longo do tempo, sofreu importantes intervenções, resultando em degradação e redução de espaço, especialmente por conta das intromissões humanas, frutos do crescimento demográfico desordenado e que resultaram na supressão de largas áreas da área de mata, deterioração de outras partes e poluição do rio que corta a reserva: o Rio Jaguaribe. Originalmente chamada de Jaguaricumbe, o sítio acabou sendo comprado pelo estado em 1907, objetivando a implantação do primeiro sistema de abastecimento d’água da Cidade da Parahyba, que começou a funcionar em 1912. Até essa época, a capital paraibana sofria horrores com a falta de abastecimento d’água seguro, o que expunha sua população a todos os tipos de doenças e endemias e surtos das mais diversas moléstias. Situação piorada pela falta de saneamento básico. Embora não tenha conseguido encerrar os perigos que cercam a Mata do Buraquinho, desde então a presença governamental deu suporte a uma vigilância maior. O que não impede a continuidade da poluição do Rio Jaguaribe e as pressões urbanas sobre a reserva numa cidade que continua a crescer a cada dia.
Sérgio Botêlho é jornalista e memorialista e escreve todas terças, quintas e sábados.
FOTOS – LUIZ HENRIQUE PARAHYBA