Na quarta-feira, 26, o país foi abalado por uma tentativa de golpe de Estado. Elementos dissidentes das forças armadas, liderados pelo então comandante do Exército Boliviano Zúñiga, tentaram tomar o controle do governo boliviano. As ações começaram nas primeiras horas da manhã, com bloqueios e ocupações estratégicas em La Paz e outras cidades importantes.
O presidente, Luis Arce, declarou estado de emergência e convocou a população a defender a democracia. As forças de segurança leais ao governo agiram rapidamente para conter os insurgentes. Houve confrontos em várias áreas, resultando em nove vítimas e algumas detenções.
A resposta das organizações sociais na Bolívia foi marcada por uma forte defesa da democracia e reagiram com veemência à tentativa de golpe de Estado. Diversos grupos se mobilizaram imediatamente para expressar seu apoio ao governo democraticamente eleito de Luis Arce e para defender a democracia no país.
A Central Obrera Boliviana (COB), uma das maiores e mais influentes organizações sindicais do país, condenou firmemente a tentativa de golpe e convocou manifestações para apoiar o governo e a ordem constitucional. A COB destacou a importância de manter a estabilidade e a paz social, enfatizando que a democracia deve ser respeitada e protegida contra qualquer tipo de subversão.
Os movimentos indígenas, que têm um papel significativo na política e na sociedade boliviana, também se posicionaram fortemente contra a tentativa de golpe. A Confederação de Povos Indígenas da Bolívia (CIDOB) e outras organizações indígenas expressaram solidariedade com o governo de Arce e reiteraram seu compromisso com a defesa da democracia e dos direitos dos povos originários. Eles argumentaram que um golpe de Estado seria um retrocesso grave para os avanços sociais e políticos alcançados nos últimos anos.
Além disso, várias organizações de direitos humanos e ONGs se pronunciaram, alertando para o perigo de violências e abusos que podem ocorrer em contextos de tentativas de golpe de Estado. Essas entidades pediram uma investigação rigorosa sobre os responsáveis pela tentativa de golpe e a garantia de que todos os envolvidos sejam levados à justiça.
Até o momento, a situação parece estar sob controle, mas o clima no país permanece tenso. O governo boliviano reforçou a necessidade de manter a ordem constitucional e apelou pela calma e unidade entre seus cidadãos.
Zúñiga foi preso e levado às celas da FELCC, Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen, e desde ontem à noite um grupo de cidadãos mantém vigília às portas dessa entidade contra “qualquer irregularidade e em defesa da democracia”.
Tanto Zúñiga quanto o comandante da Marinha da Bolívia, Juan Arnez Salvador, já estão presos pela tentativa de golpe de Estado e serão acusados de terrorismo e levante armado. Em torno aos motivos que levaram a Zúñiga, têm-se veiculado alguns rumores que ainda não foram confirmados, mas se iniciarão as investigações sobre este ato deplorável.
Acredito que uma das lições aprendidas desta situação complicada que vivemos ontem é que o povo boliviano não vai suportar um golpe de Estado depois de viver 42 anos em democracia. Como demonstraram ontem, defenderão a decisão do povo tomada nas urnas. Como sabemos, Arce Catacora venceu as eleições com 55,10% dos votos, isso foi histórico.
Os golpes de Estado são um padrão recorrente de tentativas de desestabilização contra governos progressistas e uma ameaça à integração regional. Penso que todos nós temos que cuidar da democracia.
ANA SANCHES, jornalista boliviana egressa da UFPB